
A flor que nos faz recomeçar, não é a mesma que resta no fim.
É a última flor que brota em mim e germina no seu olhar.
Seu olhar sempre mirando jardins.
Há em mim a semente do que me gerou.
Há em mim, amor em pétalas carmim
e um verde de esperança sem torpor e sem fim.
Sem aflor que nunca jaz, não há mais, falta verdade.
Verdade que nos faz, verdade que vos trago.
A verdade de que falo não é minha nem sua.
Nem mentira é tampouco.
Mas é a verdade de nós mesmos que se esconde
bem aqui, bem no fundo, despetalando-se aqui dentro.
No simples sentido do ser, de ser.
Sermos todos, muitos, juntos, jardins.
Os jardins que miraram, um dia teus olhos,
hoje, olhos vazios, sem cor, olhos vis.
Que reabram as janelas de tua alma
e que plantes enfim a última flor
que trago em mim e que ofereço à você.
Que ela floresça dia a dia e que colhamos juntos
o fim da primavera, o prazer do amor nascido
do prazer de ouvir, ver, tocar, beber, comer,
cheirar você, que é o outro.
O outro que sou eu.
Você, eu e o todo!